terça-feira, 23 de agosto de 2016

E quem vai ficar?



Eu sei, deve ser bem difícil tolerar todos os meus defeitos, até porque você deve ter criado expectativas quanto a um mundo bem menos bagunçado que o meu. Talvez tenha me visto mais calma, menos impaciente, menos agitada e cheia de manias infantis.
Eu danço sozinha enquanto ninguém vê, eu choro cantando alguma música melosa que poucos curtem, gosto de calcinhas de vovó, prendo o cabelo com meia calça. Improviso roupas, faço as unhas em casa, corto o cabelo quando dá na telha.
Não seguro o ciúmes quando alguém parece "saidinho" de mais pro lado de quem está comigo, nao aguento mentiras, nao levo desaforo para casa. Fico com voce na sexta e no sábado ja acordo pensando em como seria se chegassemos a namorar, domingo já estou procurando algum bom pacote de viagens para passarmos o reveillon. 

Exagerada na maior parte do tempo, choro com novelas, com filmes dramáticos, mas se estiver de mãos dadas seguro a barra e finjo ser forte, porque em mim quero o que o outro sempre veja que ha um porto seguro e portos seguros precisam ser bravos e firmes, então escondo minhas fraquezas. 

Confiar em mim nao é dificil, mas é bem complicado se tornar confiável - sabe, eu, assim como quase todo mundo - ja sofri bastante por ceder rapido demais e acreditar no primeiro sorrisinho bonito que cruzou meu caminho, então hoje, infelizmente acabo punindo com uma cautela exarcebada, quem nada me fez de errado - ainda!
Não sei até quando alguém ficará ao meu lado, não sei se há mesmo alguém que fique por todo sempre, mas bem que gostaria de saber e encontrá-la. Nao sei a cor dos olhos, do cabelo, se usa perfumes doces ou mais intensos, nao sei curte pop ou carrega rock nos fones de ouvido. Se dorme cedo ou vira a madrugada como eu, mas seria importante saber se realmente existe. Enquanto isso.. tô aqui, escrevendo, tomando uma cerveja gelada, esperando alguma resposta positiva da vida. 
Caso voce apareça, espero que decida ficar, melhor: que consiga! Porque eu sou bem franca ao assumir que nao é leve me pertencer e se deixar ser "minha", há um carrinho de mão vazio a ser preenchido com vários caquinhos despedaçados que ainda estão espalhados pelo chão, mas eles já nao cortam mais, nao doem, apenas ocupam alguns espaços que, se ficarem limpos de vez, deixarão tudo fresquinho para que você entre e se encaixe.

Fica, vai, fica e divide comigo o edredom macio, meu travesseiro com fronhas de cachorro, minha casa que mais parece um zoológico, minha vida que é um parque de diversões onde uns brinquedos dão medo, outros emoção, outros o vento no rosto e a vontade de viver e viver e viver. 
Me aguenta durante uma noitada regada a dança e música alta, espera o porre da manhã seguinte passar, me compra flores mesmo que eu nao saiba regar, usa o anel que eu te der, mesmo que nao queira chamá-lo de aliança de compromisso(porque em todas as outras vezes nao deu certo quando era chamado assim). Me deixa chorar no seu ombro quando minha mãe nao estiver bem de saúde, quando a saudade da minha família apertar, quando o medo de ficar sozinha no mundo sufocar meu coração. Mesmo que eu nao seja "entendível", procura alguma razão pra me entender. As vezes me sinto perdida e mesmo que você nao consiga mudar isso, fica quieta ao meu lado, nem que seja só para bagunçar o meu silencio com o barulho da tua respiração. Tem dias que acordo transbordando tudo que você quiser, em outros estou plenamente vazia e só quero um canto para encostar a cabeça, fechar os olhos e fingir que acredito que tudo, uma hora, ficará plenamente bem. 

Espero acordar amanhã. E melhor do que sentir que ainda estou viva e aqui, seria te ver por aqui também. 

Fica, vai..














.. fica.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Um castelo em ruínas



E lá estava eu. Sentada na escada de casa, vendo roupas espalhadas, móveis empoeirados, como se ha muito tempo ninguém morasse ali. Ninguém que apertasse a campainha teria uma resposta, ninguém que telefonasse seria atendido. Eu nao queria mais nada, nem ouvir que a dor passaria, nem flores, nem que abrissem as janelas para que algo ali ficasse claro.
Meu coração parou. Minha vida parou. E eu já nao sabia mais quem eu era, ou porque ainda insistia em ficar em um mundo que só chegou a ter graça quando era dividido com ela. Eu só queria ficar mais um tempo sentada ali, quem sabe mais alguns dias, noites.. Até nao restar ar. Aliás, eu ja me sentia assim, como se ja nao tivesse mais ar para respirar, o peito se sentia apertado, como quando ela me abraçava forte e quase quebrava minhas costelas, so que agora o aperto nao era quente, era frio, era congelante. Aquela escada era como uma cadeira com algemas, colocada dentro de alguma caverna em que ninguém mais seria o bastante para conseguir ver e entrar. Sabe quando alguém vai embora e nas malas coloca tudo que você tinha de bom?! Sabe quando no meio das tralhas, arrancam seu coração, colocam em qualquer embalagem plástica e metem naqueles bolsinhos pequenos reservados para separar meias e lingeries?! Sim, era exatamente ali que eu vi meu coração a partir do momento em que ouvi o ziper da mala fechar e o portao sendo fechado com força.

Partiu. Partiu da minha vida, partiu meu coração. Levou uma parte de tudo que demorei anos para construir e direcionar a alguém. Pegou meus melhores sorrisos, minhas coreografias engraçadas, dançadas enquanto vestia pijamas com estampas infantis, levou o melhor banho de chuva compartilhado, levou o meu melhor olhar, levou a vontade de estar arrumada, de escolher o melhor perfume, levou. Nada de tão bom trouxe para conseguir me despir tão bem de mim, mas o fez. Talvez tenha jogado na primeira lata de lixo pela qual cruzou, abriu a mala e tirou daquele bolsinho meu lambuzado coração, que enquanto estava perto dela, mesmo longe de mim, ainda batia, ainda estava quentinho. Ela era o fósforo que acendia a minha chama. Surtiu em mim o calor mais tórrido, foi quem me fez sentir viva de verdade e quem me matou. Matou sem assassinar, sem apontar arma ou colocar veneno no meu drink. Apenas matou. E nem pena sentiu e nem remorso, afinal, quem ia querer um coração tão entregue de bandeja?!

Nem eu.

Arruinou meu castelo, meu conto de fadas sem príncipe, me fez sentir o sapo, a bruxa, menos a princesa. Estragou tudo. Absolutamente tudo que poderia ter dado certo, pegou e jogou pela janela da torre. Extraviou pela floresta nada encantada que se veste de algum boeiro sujo, fedido a alcool na cidade. Houve beijo, nao no final, e o que me despertou do sono que poderia durar 100 anos, foi ouvir cada vez mais distantes os passos que ela dava em direção a qualquer outro lugar que nao fosse para perto de mim. Sem vestido longo, sem aqueles casamentos barulhentos, sem cavalo branco. Meu conto de fadas foi quase um "Cinderela" reverso, quando pensei que tinha tudo, já nao tinha mais nada, so restaram as irmãs más: Solidão e Melancolia. E a madrasta, Saudade. No meu armário só restaram trapos e nao ha mais espaço para a fada madrinha Esperança, a carruagem que me busca toda meia noite não é mais uma abóbora, agora ela se fantasia de insonia.


Por Marina Consoli.